A
tradicional Missa do Vaqueiro deste ano, em que se deveria comemorar
seus 45 anos de realização, o evento, que reúne milhares de pessoas no
município de Serrita, no Sertão pernambucano (535 km do Recife), pode
não acontecer.
Além
da redução no repasse de verbas do Governo do Estado para a Fundação
Padre João Câncio, responsável pela produção, a Empetur alegou não ter
condições para as reformas necessárias para receber o público no Parque
Estadual João Câncio, onde a Missa é celebrada e também onde acontecem
os shows da parte profana da festa.
Visitantes
de todo o Nordeste prestigiam a festa, lotando todas as hospedagens da
cidade e dos municípios vizinhos, como Salgueiro, Exu, Parnamirim e
Moreilândia, além de movimentar o fluxo do comércio local.
De
acordo com os organizadores do evento, a diminuição em 30% do montante
de recursos repassados é até contornável, mas a completa falta de
infraestrutura em um equipamento de responsabilidade da Secretaria de
Turismo do Estado e da Empetur inviabilizam qualquer iniciativa.
"O
pior é a falta de interesse, o desprezo. A Empetur chegou a recomendar o
cancelamento do evento, sem buscar nenhuma alternativa para reverter
essa situação", diz Helena Câncio, coordenadora da Missa do Vaqueiro.
Turismo regional sem atenção
Desde
o ano passado a Fundação Padre João Câncio vem tentando junto ao
Governo do Estado, que patrocina a Missa através da Secretaria de
Turismo e da Empetur, a ideia de desenvolver a infraestrutura da cidade -
começando pela reforma do Parque Estadual João Câncio, onde a Missa é
celebrada - e da criação de uma rota turística.
"A
ideia seria traçar um itinerário que passasse por cidades importantes
do centro do Sertão para a história dos vaqueiros. Essa seria uma boa
forma de apresentar mais sobre essa cultura, muitas vezes não
valorizada, ao Nordeste e ao Brasil", afirma Helena Câncio
Considerado
o maior evento cultural dos Sertões, a Missa do Vaqueiro é conhecida
por mesclar o tradicional e o profano. No ano passado recebeu um público
de aproximadamente 70 mil pessoas. Como de costume, os visitantes
puderam conferir inúmeras atrações nos dias que antecedem a missa em
homenagem ao vaqueiro Raimundo Jacó. Entre elas, vaquejadas, pegas de
boi, exposição de artesanatos e shows de artistas regionais e locais,
como Gabriel Diniz, Josildo Sá, Quinteto Violado, Dorgival Dantas, Sela
Rasgada e Coral Aboios.
História
A
Missa do Vaqueiro, realizada anualmente sempre no quarto domingo do mês
de julho, tem em suas origens uma história que foi consagrada na voz de
Luiz Gonzaga: a de Raimundo Jacó, um vaqueiro habilidoso na arte de
aboiar. Reza a lenda que seu canto atraía o gado. Mas atraía também a
inveja de seus colegas de profissão, fato atribuído a sua morte. O fiel
companheiro do vaqueiro na aboiada, um cachorro, velou o corpo do dono
dia e noite, até morrer de fome e sede.
A
história de coragem se transformou num mito do Sertão e três anos após o
trágico fim, sua vida foi imortalizada pelo canto de Luiz Gonzaga. O
Rei do Baião, primo de Jacó, transformou "A Morte do Vaqueiro" numa das
mais conhecidas e emocionantes canções brasileiras, num hino de louvor
para os vaqueiros nordestinos. Mas Gonzaga queria mais.
Dessa
forma, ele se juntou a João Câncio dos Santos - padre que ao ver a
pobreza e as injustiças cometidas contra os sertanejos passou a pregar a
palavra de Deus vestido de gibão - para fazer do caso de Jacó o mote
para o ofício do vaqueiro e para a celebração da coragem.
Assim, em 1970, o Sítio Lajes, em Serrita, onde o corpo de Jacó foi encontrado, recebe a primeira Missa do Vaqueiro.
De
acordo com a tradição, o início da celebração é dado com uma procissão
de mil vaqueiros a cavalo, que levam, em honras a Raimundo Jacó,
oferendas - como chapéu de couro, chicotes e berrantes - ao altar de
pedra rústica em formato de ferradura. A missa, uma verdadeira romaria
de renovação da fé, acontece sempre ao ar livre e se assemelha bastante
aos rituais católicos, porém contando com toques especiais que
caracterizam o evento: no lugar da hóstia, os vaqueiros comungam com
farinha de mandioca, rapadura e queijo, todos montados a cavalo.
Fonte: Blog do Jamildo
Postado: Estação Rei do Baião
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